Sabe quando dá aquele vazio
no peito, aí a gente respira bem fundo pra preencher nem que seja só de ar? Dá
aquele alívio momentâneo, conforta um pouco o coração por alguns segundos. Mas
como é quando se respira fundo e parece que o pulmão tá cheio de buraco? Vários
buracos que não deixam vir o conforto, o alívio, não que fosse duradouro, mas
adianta, adianta nem que seja só bem rápido, só uma ilusão de alívio.
Pra começar esse era o tipo
de coisa que nem deveria acontecer. Você tá lá, de boa na vida, tranquila,
feliz... aí vem aquela pessoa feito um tapa na cara, bem doído, de surpresa,
não se sabe de que direção, e deixa a marca. Todos os dedinhos bem desenhados
no nosso rosto, aquela sensação de formigamento na bochecha, constantemente,
que é pra não te deixar esquecer que ela tá ali. Tá e não tá. Só um efeito que
se sente de algo que não está presente fisicamente, mas nem por isso deixar de
estar, nem por isso deixa de doer.
Mas tá, apesar da analogia
dolorosa a princípio é uma dor bem gostosa de sentir, essa da surpresa de
aparecer alguém que traz um fio de esperança pra nossa vida. A vida que tava
sim, tranquila, mas de repente.... de repente a gente começa a pensar que faltava
mesmo aquele pedaço. “Poxa, como eu passei esse tempo todo vivendo sem esse
pedaço, sem essa coisa incrível, como...?” Engraçado como a vida parece vazia
quando se está só, mesmo que se aprecie a própria companhia, a auto
suficiência, ‘eu tô bem não preciso de
coisa alguma além de mim’. Será?
Eu sei que não consigo me
fazer entender, claramente, porque tá tudo sempre tão confuso, tão embaralhado
na cabeça... confuso ao ponto de virar uma coisa grande, uma pedra enorme no
meio do caminho da vida e eu nem tenho aparatos pra escalar. Eu, no auge dos
meus quase 25 anos, não tenho aparatos pra muita coisa.
Imagina só, que uma mulher
de um quarto de século de existência, que teoricamente deveria sem bem
resolvida na vida, formada, trabalhando, muito bem obrigada. Um quarto de
século e subtraia-se disso cinco anos. É ela. Vinte anos, ou quase isso,
teoricamente sem o tanto de maturidade na vida que eu, mais uma vez,
teoricamente¸ deveria ter, ela vem de um jeito... numa força que. Sabe? Sabe
aquela coisa de quando a gente entra no mar, e a água tá bem gelada e aí você
tá meio distraído, só tentando se focar em como suportar o frio, porque tá bem
frio. Aí de repente vem aquela onda enorme gelada, te pega de surpresa, foge o
ar, tu não sabes pra onde fugir porque é muita água né, gelada, não tem ar. Só
o que tem é você completamente envolvido por aquela onda, por toda aquela água.
E por alguns segundos ou minutos ou sabe-se lá quanto tempo, a gente não tem a
mínima ideia de como sair dali. Porque é mais forte que a gente.
Tá tudo meio sombrio né. Eu
sei. Mas... tá bom. É mais como se fosse um sopro, uma brisa de fim de tarde, uma
coisa boa. Mas a brisa só descreve a delicadeza do sentimento, não a força
dele.
Parece muito, depois de um
mês e pouco e quase nada de convívio. Mas caraca! Isso aqui dentro cresceu de
um jeito completamente não planejado. Mas isso não é importante, não é a parte
mais importante da história, só a parte óbvia. A parte que tá escrita,
entalhada no rosto. Que se pensar bem não tinha como não acontecer porque como
se ignora alguém assim? Tão maravilhosa? Tão feita pra se encaixar com a gente
de todas as formas possíveis, e, nas que não são possíveis, somar um bocado de
coisas boas.
A parte importante é essa
incerteza, essa falta de solidez, de chão, de concretude, de qualquer coisa
palpável que indique, dê uma pista, sinal de fumaça, qualquer coisa que indique
de forma clara que vale a pena esperar e continuar. Como se pode criar raízes
sem ter um chão, uma certeza, alguma coisa pela qual se possa esperar?
???